"Eu procurava o amor em jardins de cactus.
Vinha buscando o fruto em árvores erradas, e nas mordidas sentia o gosto azedo,
que amarga no fim da boca. Colhi amores podres, comidos pelo tempo e dor.
Foi preciso paciência – e um outro
tempo – amadurecendo um fruto para colhê-lo doce, suave, terno e delicado.
Simples como naturalmente é.
Eu imaginava haver segredos por trás
dos espinhos. Mas é puro acaso que amores e espinhos se encontrem em botões
abertos ou fechados. A rima entre amor e dor é armadilha.
O verdadeiro fruto está ao alcance
das mãos – mas é tão rasteiro, que quase não se vê. É preciso passear sem fome
para enxergá-lo redondo, vermelho. Para então mordê-lo distraído como numa
tarde de chuva."
Cris guerra
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